A ciência é uma forma de
conhecimento, de saber que tem como objetivo fornecer explicações teóricas
profundas e abrangentes, com soluções o mais adequada possível para problemas
gerados por ela própria. Ela, nesse sentido, tem uma função expansionista. Para
alguns cientistas, sejam eles da exata ou das humanas, sua expansão significa a
busca por um mundo melhor, um mundo que as pessoas possam viver melhor, que as
descobertas possam contribuir para erradicar os males sociais etc. Mas para que
as descobertas sejam possíveis, ela precisa de liberdade. Pois a mesma com sua
racionalidade crítica derruba teorias formuladas antes para poder avançar. Por
esse ângulo, de algum modo ela cria mundos, estabelece perspectivas.
Outra forma de conhecimento é o
da arte. Na exata medida em que apresenta mundos distintos do seu. Ela como o
OUTRO, ao encontrá-la, proporciona uma nova relação, um novo agenciamento. Ela,
nessa perspectiva, exerce sua força pelo mundo de possíveis que carrega, nas
possibilidades que o encontro com ela faz surgir: expande o individuo; expande
a vida. Ela também precisa de liberdade. Pois também derruba forças
conservadoras, ataca valores velhos. Ela como a ciência necessita de
instituições políticas democráticas que se comprometam em salvaguardar a liberdade,
em especial, a liberdade de defender a liberdade, e assim prevenir contra as
formas de tirania.
Pensei tudo isso, por conta da
peça que fui ver hoje, a saber, AMARELO DISTANTE. Uma peça que me apresentou o
OUTRO: o escritor Caio Fernando Abreu. Um trabalho sensível. Que me tocou pelo
mundo (com suas possibilidades) que surgia da vida do Caio Fernando, fazendo
com que eu pensasse o meu. Que me tocou por escancarar como a história do mundo
ao se encontrar com a história de cada um coagula certo individuo, deixa suas
marcas. O teatro, talvez, tenha esse quê de alteridade inerente a ele. Outra
coisa que chama muita atenção é o poder da palavra. O poder da palavra poética
ressoando pelo espaço vazio do teatro e dela emergindo os mundos do Caio, seja ele
o privado ou o público. O teatro com seu palco vazio, mas preenchido pela força
da palavra. Pela força sensível da encenação ao priorizar a palavra e a
partitura corpóreo-cênica. Pela força do trabalho do ator que dá vida ao mundo
Caio. Saí com a sensação que, talvez, o mundo ande surdo para poesia, para as
vidas paralelas, para aquelas vidas que abrem um risco de água que pode vir a
ser um rio.
Como diz o texto da peça: “se a
realidade nos enche com lixo, a mentalidade deve nos encher com flores” (acho que
era mais ou menos isso).
Enfim, não conheço muito bem a
obra e vida do Caio Fernando, mas gosto de pensar por meio do espetáculo nessas
vidas que nos apresentam formas outras de estar no mundo. Para quem quiser
conferir o espetáculo, ele tá o TUPS até o próximo fim de semana. Sábado às 20h
e Domingo às 18h.