A reflexão acerca da
política que a cientista política Belga Chantal Mouff faz muito me interessa.
Ainda mais quando ela busca explicar a distinção entre Política e Político.
Para a autora a política tem como menção o campo empírico, os fatos da ação
política, ao passo que o político está relacionado à própria formação da
sociedade. O político representaria um espaço de poder, conflito e
antagonismos: “entendo por ‘político’ a dimensão de antagonismos que considero
constitutiva das sociedades humanas, enquanto entendo por ‘política’ o conjunto
de práticas e instituições por meio das quais uma ordem é criada, organizando a
coexistência humana no contexto conflituoso produzido pelo político”. Para autora
não existe a possibilidade de uma democracia radical sem a possibilidade do
político; dos conflitos e dos antagonismos que se exerce nas esferas públicas, no
espaço social, assim como, não existe a possibilidade de tal democracia sem a
política, ou seja, sem instituições que possam criar, como mediadores desse conflito,
espaços de coexistência.
Para Mouff, portanto, não
devemos imaginar a política democrática em termos de consenso e reconciliação,
mas em nos esforçar para imaginar e criar uma esfera pública vibrante, o que
ela chama de “agonística”, de contestação, na qual diferentes projetos
políticos hegemônicos (fixação de discursos) possam se confrontar. Porém, para
que esse projeto seja possível devemos fugir da esfera moral, para aonde
comumente o político é jogado, e adentar nas categorias políticas, isto é,
esquerda e direita e não bem ou mal.
A autora, nesse sentido, defende
um pluralismo agonístico por entender que a questão principal das práticas
democrática não é eliminar o poder e sim constituir formas de poder mais
compatíveis com os valores democráticos. Ela busca nos gregos o conceito de
Agon para pensar esse pluralismo, pois para os gregos agon abarca vários
sentidos, em particular o de luta, de competição tanto num plano verbal como
físico. O modelo agonístico da democracia postulado, pela autora belga, defende
que a política democrática consiste em transformar o antagonismo social em
agonismo e, desse modo, transformar a luta entre inimigos em lutas entre
adversários.
Todavia, me parece que o que
vem sendo exercitado no nosso contexto é tudo menos tal pensamento. No Brasil o
político vem sendo tomado de assalto pela figura do gestor e a política vem
sendo instrumento de eliminação do outro. Em nome de certo consenso práticas
autoritárias são legitimadas por tais instituições. Setores que historicamente
são politizados e com isso contribuem com projetos em direção a uma democracia
radical vem sofrendo todo tipo de censura, de violência. O Estado que deveria
ser o mediador desse conflito, como está na nossa constituição, vem se
ausentando de tal responsabilidade e, pior, por meio da figura do seu agente,
incitando essa violência. Para isso, basta ver o último vídeo do gestor da
maior cidade da América Latina reclamando certo limite da arte. Tendo como base
de ataque o moralismo e não um pensamento racional crítico, que deveria ser o
modo como o agente do Estado deve inserir-se numa discussão quando sendo ela de
interesse público.
Nessa diretriz o que Estado vem
fazendo é elogiar certas faculdades e rejeitar outras. Prescreve, dessa forma,
condutas desejáveis e veda as “indesejáveis”. Em nome de uma perspectiva moral o
Estado vem por meio do ordenamento jurídicos orientando a ação do sujeito, privilegiando
certos valores e desprestigiando outros. Decidindo sem o devido cuidado quais modos de
vida devem ser estimuláveis bem como modos de criação e de fazer.
O que torna a ação artística
ainda mais importante desvelando ainda mais o seu caráter político. E,
portanto, necessária e urgente no mundo em que vivemos. Pois como entende
Mouffe a ação artística é da ordem agonística já que opera discursivamente na
dimensão da ordenação, reprodução ou MODIFICAÇÃO SOCIAL. Quando da modificação a operação não é sem riscos.
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